Capa do conto em visualização 3D - Nildo Naschedin |
Após milênios
espreitando as rotinas incoerentes da humanidade, ele surgiu nos céus para
purificar um mundo alienado de violências e futilidades em prol de um futuro
utópico, reinado pela hipocrisia. Não suportando a dor latente dos momentos
finais, chorou, aguardando enfim o estímulo restante à ejaculatória.
No solo, era
só mais um dia qualquer no ano de 2029. Por volta das nove horas do dia nove de
novembro, o último de doze irmãos de uma paupérrima família maranhense vinha a
óbito por desnutrição. O pai desolado, em derradeiros lampejos de lucidez,
apunhalou repetidas vezes seu vizinho por lhe furtar uma galinha.
Ver esta cena
desenrolar-se foi o estopim do orgasmo celestial. Aqueles homens mirrados,
rolando na lama, gratinados pelo sol, atracados e urrando, enfim, revelando os
animais que incubavam... Já fora o suficiente, ele não podia mais conter-se.
Descargas de
raios simultâneos caíram sobre todo o globo, deixando inoperantes quaisquer
aparelhos eletrônicos. Milhões morreram e outros milhares desfaleciam enquanto
acidentes ocorriam em cadeia. Trovões ensurdecedores ressoavam-se como os
gritos desse homem mediante as tragédias terrenas. E muitos notaram, então,
sobre uma planície incendiada pela queda de dois aviões atingidos pela chuva
elétrica, a figura dele resplandecente pairando no ar.
Aparentava ter
próximo de trinta anos no rosto, mas uma longa barba moldada ao dorso com
filetes prateados indicava o oposto. O destaque inexpressivo de olhos
mergulhados no branco da esclera causava desconfortáveis alucinações àqueles
que futuramente tentariam aproximar-se.
Vestia uma
túnica azul-marinho de seda como casaco, adornado com duas faixas brancas
verticais paralelas circundando o pescoço. O embainhado do comprido vestido era
enfeitado de ornamentos em dourado. Uma larga faixa preta amarrada na região do
abdômen simulava um cinto de tecido cuja boa parte das pontas sobrava do nó
lateral até os tamancos de jacarandá. A vestimenta interna forrando o corpo era
uma simples camisa e calça de tecelagem fofa, na cor azul-turquesa. Ninguém
podia ver os braços, já que as mangas em formato de sinos eram tão extensas que
ultrapassavam o comprimento do homem. Porém, ainda seria apenas metade se
comparado ao tamanho do cabelo na parte traseira da cabeça que parecia um véu
negro acompanhando a direção do vento.
Mas nada disto
era mais chamativo que o seu falo ereto, que sim, dava para vê-lo
expressivamente. Não só as pessoas próximas, mas aquelas a alguns quilômetros o
repararam também. Pois, a protuberância da bitola alongava-se por uns seis
metros em comprimento, onde a base se mantinha normal. Contudo, a chapeleta da
glande chegava a uns dois metros de espessura. Nos tempos do futuro desespero,
muitos o apelidaram de 'O Supremo e o martelo da justiça'.
Quando toda a atenção
caiu sobre ele, os relâmpagos cessaram. E, em um breve momento de tensão,
quando muitos não sabiam o que fazer ou o que pensar, disparou naqueles ainda
vivos contínuos lasers em amarelo fluorescente projetados da uretra.
Os resultados
dependiam dos alvos. Nas fêmeas atingidas, o jato pegajoso era absorvido em
contato com a pele. Já nos machos, ocorria um processo doloroso de
descalcificação e redução de toda a estrutura óssea corporal. Os homens
impactados em poucos instantes tornavam-se bolsas de carne espalhadas pelas
ruas.
Mulheres
surpreendiam-se com a tonalidade do corpo avermelhando enquanto a pele secava e
ardia. Na linha dorsal, da nuca ao cóccix, espichavam-se quatro asas
membranosas justas. Seus braços e pernas cresciam e afinavam na mesma proporção
em que, inversamente, o tronco e a cabeça regrediam e achatavam. A mandíbula
expandia para frente, salientando duas novas arcadas de presas, formando o
número oito deitado. Os cabelos e as roupas combustavam ao absoluto por meio da
radiação corporal, tornando impossível uma aproximação.
Passando agora
a agir como criaturas irracionais, quando concluída a transformação, partiam
para degustar o prato do dia. Os homens espatifados no chão como sacos de bosta
ainda estavam vivos. Eles balbuciavam de dor e desespero dos seres que os
devoravam, quais antes foram as mulheres das vossas vidas.
Durante os
quarenta dias metralhando lasers por todo o mundo, foi projetado pela União das
Civilizações Humanas um último ataque com a totalidade dos armamentos nucleares.
A conclusão deu-se depois que noventa por cento da população civil fora
aniquilada. Em uma das últimas reuniões dos líderes internacionais no
parlamento do Reichstag Building, foi acordada a execução dos planos pelas
tropas estudantis afegãs, dos quais, no momento, eram vítimas do martelo da
justiça. Foram-lhes cedidas pouco mais de trinta mil ogivas de sessenta
megatons espalhadas em frotas de mísseis teleguiados direcionados ao Supremo.
Este, por sua
vez, encerrava os disparos, já que seu pênis agora estava flácido e em tamanho
reduzido a nível africano. A munição havia acabado, entretanto, a expiação
prosseguia. Todavia, seu campo de visão estava comprometido, enxames de mísseis
vinham de encontro a ele. Correspondendo igual um apreciador de grandes
eventos, estirou os braços encobertos para frente e bateu as palmas.
Uma onda de
choque colossal varreu os mísseis para suas fontes, instantaneamente
detonando-os. E, assim, contemplando as sobras da humanidade. O estampido de
alta potência, resultado da colisão, viajou atrasado à devastação planetária.
Mas, quando se fazia presente, ruía as estruturas e rachava a crosta terrestre
transmitindo um código sintonizado às criaturas.
Elas
permaneciam imóveis após serem reverberadas pelo estrondo. Passado um tempo,
desmontavam, liquefazendo-se. Das poças espelhadas em prata, saíam sombras rosa
em formas de cavalos com chifres vergados e crinas espinhosas. Todas partiam ao
Supremo, galopando no ar em velocidade descomunal sobre as suas dezesseis patas
sincronizadas.
Completamente
despido das vestimentas, o Supremo aguardava deitado no solo com uma enorme
boca de quatro metros de diâmetro aberta, onde as sombras equinas mergulhavam
ordenadas em filas que cobriam o horizonte.
À plenitude da
ingestão, o corpo retornou à normalidade requisitada. E, nesta terra árida e
desértica, defecou por três dias e três noites ininterruptos. Excretando dez
toneladas de dejetos negros, amontoados na forma piramidal. Moldou a massa com
as próprias mãos, objetivando uma escultura de nove metros no formato de um
feto recém-nascido, sentado de pernas fechadas com as duas mãos apoiadas nos
joelhos.
Com a obra concluída, escavou parte da areia onde as nádegas da estátua estavam apoiadas. Ao encontrar o ânus do bebê, entranhou-se ao interior rugoso e claustrofóbico até submergir qualquer ínfima presença restante.
O monumento detinha tamanha excelência em detalhes que beirava o realismo se subtraíssemos a massiva luminescência de aura branca que se expandia gradativamente mais longe no cosmo. Trespassando a luz, composições sólidas ou extrafísicas, engolindo trilhões de galáxias e universos, implodindo toda a existência em um átomo da mediocridade.
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